Inteiras. Nunca perfeitas.
Hoje decidi escrever sobre o não sermos perfeitas, mas inteiras!
Porque é algo que vejo todos os dias nas minhas sessões… e, tantas vezes, também em mim.
Durante muito tempo, ensinaram-nos que para sermos amadas precisávamos de ser perfeitas.
Dizer sempre sim.
Nunca falhar.
Portarmo-nos “bem”.
Esconder a dor. Mostrar força.
E nós acreditámos. Vestimos essa armadura pesada e caminhámos com ela durante anos.
Mas o peso… é imenso. E, no fundo, essa armadura só nos afasta de quem realmente somos.
A perfeição é uma prisão silenciosa. Rouba-nos a leveza. Afasta-nos de nós. Afasta-nos dos outros.
Quantas vezes sorrimos quando, por dentro, estávamos a desmoronar?
Quantas vezes respondemos “está tudo bem”, quando na verdade nada estava?
Quantas vezes nos exigimos mais e mais, a pensar que só quando fôssemos melhores é que seríamos suficientes?
Esse é o preço da armadura: parecer fortes, quando o que mais precisamos é de espaço para sermos humanas.
Ser inteira não é ter tudo resolvido.
Não é saber todas as respostas.
Não é acertar sempre.
Ser inteira é permitir sentir.
É dar-nos permissão para errar.
É abraçar a vulnerabilidade, mesmo quando assusta.
Ser inteira é aprender a dizer não.
É descansar sem culpa.
É ter coragem de nos escolhermos todos os dias, mesmo quando é difícil.
É aceitar que nem sempre sabemos, nem sempre conseguimos, nem sempre temos respostas.
E, ainda assim… saber que somos dignas de amor.
Voltar a nós não é um acontecimento. É um caminho.
Um caminho feito de pequenas escolhas, como parar quando tudo grita pressa, respirar antes de reagir,
tratar-nos com mais ternura do que exigência, pedir ajuda quando o peso é grande demais para carregar sozinhas.
É um regresso lento. Paciente. Cheio de compaixão.
E é aqui que, tantas vezes, a terapia faz sentido.
Não para nos “corrigir”, porque nunca houve nada de errado connosco.
Mas para nos ajudar a voltar a nós.
Para explorarmos com segurança o que dói, o que bloqueia, e descobrirmos que já somos suficientes — exatamente como somos.
Inteiras.
Nunca perfeitas.
Abraço
Susana Amaral