Quando sentimos que fomos “usados/as”
Hoje quero falar-vos de algo que muitos de nós já sentimos, mas que raramente se assume em voz alta.
Não por falta de coragem, mas porque a mágoa pede silêncio.
A dor de perceber que alguém se aproximou… não por quem somos, mas pelo que podíamos oferecer.
E quando o interesse se esgota, essa pessoa afasta-se…, deixando um vazio e uma sensação estranha de se ter sido “usada/o”.
Quando damos de coração, partilhamos ideias, tempo, lealdade e presença, acreditando num vínculo genuíno. E depois percebemos, pelos gestos (ou pela ausência deles), que o outro apenas se servia, há um abalo interno.
E não é apenas tristeza. É uma rutura silenciosa, uma quebra de confiança no invisível.
Um “não sei como agir” que mexe com o nosso valor e com a nossa fé nas relações.
Mas essa dor, por mais dura que seja, também traz sabedoria. Ela mostra que estivemos inteiras. Que demos com verdade.
Que somos pessoas que criam a partir do coração, e é por isso que sentimos tanto quando o outro não está presente com a mesma verdade.
Às vezes, esta dor vem de um lugar ainda mais fundo:
de uma parte de nós que acredita que precisa de dar muito para ser amada,
que confunde entrega com merecimento,
que teme ser rejeitada se disser “basta”.
E então damos demais! Não por fraqueza, mas porque ainda estamos a aprender que o amor verdadeiro não se conquista à força. Ele nasce da presença, não do sacrifício.
A ferida do uso não precisa tornar-nos duras.
Pode ensinar-nos a colocar limites com amor, a discernir sem julgar, a dar apenas onde há reciprocidade, a cuidar da nossa energia como quem protege um templo sagrado.
Nem sempre é fácil aceitar que alguém nos escolheu apenas enquanto servíamos um propósito. Mas, quando conseguimos olhar para isso com consciência, percebemos que cada uso também nos mostra um limite, e que crescer é aprender a cuidar da nossa energia, sem endurecer o coração.
Porque quem dá a partir da alma, mesmo quando o outro não sabe receber, mantém sempre a sua integridade intacta.
Susana Amaral
Terapia Transpessoal & Consciência emocional